Verbos
Características dos verbos regulares e irregulares
Jorge Viana de Moraes*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Quanto à flexão, os verbos são classificados em: regular, irregular, defectivo e abundante. Neste texto, abordaremos apenas as duas primeiras classificações, ou seja, a regular e a irregular.
Os chamados verbos regulares são aqueles que se flexionam seguindo o modelo que representa o tipo comum de conjugação, isto é, o paradigma.
Tomemos como exemplo os verbos cantar, vender e partir como paradigmas da 1ª, 2ª e 3ª conjugação, respectivamente. Eles são verbos regulares porque o radical de cada um deles se mantém em todas as formas do paradigma, além de suas terminações seguirem o modelo da conjugação a que pertencem.
Já os verbos irregulares são aqueles que, em algumas formas, apresentam modificações no radical ou na flexão, afastando-se, assim, do modelo da conjugação a que pertencem.
Nota-se, a partir dos exemplos abaixo, que todos os verbos regulares da 1ª conjugação formam os seus tempos como cantar; os da 2ª, como vender; e os da 3ª, como partir.
Quando se diz que os verbos regulares mantêm o mesmo radical em todas as formas não significa que ele não possa apresentar alterações gráficas. Sobre esse aspecto, Celso Cunha e Lindley Cintra (em Nova Gramática do Português Contemporâneo, Editora Nova Fronteira) chamam a atenção no sentido de não se confundir irregularidade verbal com certas discordâncias gráficas que aparecem em formas do mesmo verbo e que visam apenas a indicar-lhes a uniformidade de pronúncia dentro das convenções do nosso sistema de escrita.
Assim, de acordo com esses mesmos autores, os verbos da 1ª conjugação cujos radicais terminem em -c, -ç e -g mudam tais letras, respectivamente, em -qu, -c e -gusempre que se lhes segue um -e:
ficar - fiquei
justiçar - justicei
chegar - cheguei
Já os verbos da 2ª e da 3ª conjugação cujos radicais terminem em -c, -g e -gu mudam tais letras, respectivamente, em -ç, -j e -g sempre que se lhes segue um -o ou um -a. É o que se dá com o verbo vencer, apresentado acima como exemplo da segunda conjugação (vencer - venço - vença), e o verbo distinguir, apresentado como exemplo da terceira conjugação (distinguir - distingo - distinga) além de outros, como abaixo se vê:
tanger - tanjo - tanja
erguer - ergo - erga
restringir - restrinjo - restrinja
a) variação no radical em comparação com o infinitivo: ouvir - ouço; dizer - digo; perder - perco; caber - caibo;
b) variação na flexão: estou - estás.
Cunha e Cintra nos apresentam uma descrição mais detida, por exemplo, da 1ª pessoa do PRESENTE DO INDICATIVO dos verbos dar e medir. Vejamos mais uma vez as observações desses autores:
a) a forma dou não recebe a desinência normal -o da referida pessoa;
b) a forma meço apresenta o radical meç-, distinto do radical med- que aparece no INFINITIVO e em outras formas do verbo: med-ir, med-es, med-i, med-ira, etc. Sendo assim, os verbos dar e medir são verbos irregulares.
No entanto, se examinarmos o PRETÉRITO IMPERFEITO DO INDICATIVO dos verbos em questão, como nos orientam os referidos autores, observaremos que as formas:
a) dava, davas, dava, dávamos, dáveis, davam se enquadram no paradigma dos verbos regulares da 1ª conjugação; e
b) media, medias, media, medíamos, medíeis, mediam, por sua vez, incorporam-se ao paradigma dos verbos regulares da 3ª conjugação.
Desta forma, conclui-se que num verbo irregular podem ocorrer determinadas formas perfeitamente regulares.
Descrição desse tipo foi o que, certamente, levou Joaquim Mattoso Câmara Jr. (emEstrutura da Língua Portuguesa, Editora Vozes) à seguinte constatação: "o que nossas gramáticas alinham, em ordem alfabética, como 'verbos irregulares', deve ser entendido como um desvio do padrão geral morfológico, que não deixa de ser 'regular', no sentido de que é suscetível a uma padronização também".
A partir dessas observações, apesar de tradicionalmente classificarmos alguns verbos como irregulares, é necessário que se façam deles uma descrição mais detalhada, para que, assim, possamos ter um melhor conhecimento da sistematicidade da língua. Fica a reflexão.
Os chamados verbos regulares são aqueles que se flexionam seguindo o modelo que representa o tipo comum de conjugação, isto é, o paradigma.
Tomemos como exemplo os verbos cantar, vender e partir como paradigmas da 1ª, 2ª e 3ª conjugação, respectivamente. Eles são verbos regulares porque o radical de cada um deles se mantém em todas as formas do paradigma, além de suas terminações seguirem o modelo da conjugação a que pertencem.
Já os verbos irregulares são aqueles que, em algumas formas, apresentam modificações no radical ou na flexão, afastando-se, assim, do modelo da conjugação a que pertencem.
Infinitivo | Terminação | Radical |
cantar | -ar | cant- |
vender | -er | vend- |
partir | ir | part |
Nota-se, a partir dos exemplos abaixo, que todos os verbos regulares da 1ª conjugação formam os seus tempos como cantar; os da 2ª, como vender; e os da 3ª, como partir.
Verbo Copiar (1ª Conjugação) | |
Modo Indicativo | |
Presente | Eu copio, Tu copias, Ele copia, Nós copiamos, Vós copiais, Eles copiam. |
Pretérito Imperfeito | Copiava, copiavas, copiava, copiávamos, copiáveis, copiavam. |
Pretérito Perfeito | Copiei, copiaste, copiou, copiamos, copiastes, copiaram. |
Mais-que-perfeito | Copiara, copiaras, copiara, copiáramos, copiáreis, copiaram. |
Futuro do Presente | Copiarei, copiarás, copiará, copiaremos, copiareis, copiarão. |
Futuro do Pretérito | Copiaria, copiarias, copiaria, copiaríamos, copiaríeis, copiariam. |
Modo Subjuntivo | |
Presente | Copie, copies, copie, copiemos, copieis, copiem. |
Imperfeito | Copiasse, copiasses, copiasse, copiássemos, copiásseis, copiassem. |
Futuro | Copiar, copiares, copiar, copiarmos, copiardes, copiarem. |
Modo Imperativo | |
Afirmativo | Copia, copie, copiemos, copiai, copiem. |
Negativo | Não copies, não copie, não copiemos, não copieis, não copiem. |
Formas Nominais | |
Infinitivo impessoal | Copiar. |
Infinitivo pessoal | Copiar, copiares, copiar, copiarmos, copiardes, copiarem. |
Gerúndio | Copiando. |
Particípio | Copiado. |
Verbo Vencer (2ª Conjugação) | |
Modo Indicativo | |
Presente | Eu venço, Tu vences, Ele vence, Nós vencemos, Vós venceis, Eles vencem. |
Pretérito Imperfeito | Vencia, vencias, vencia, vencíamos, vencíeis, venciam. |
Pretérito Perfeito | Venci, venceste, venceu, vencemos, vencestes, venceram. |
Mais-que-perfeito | Vencera, venceras, vencera, vencêramos, vencêreis, venceram. |
Futuro do Presente | Vencerei, vencerás, vencerá, venceremos, vencereis, vencerão. |
Futuro do Pretérito | Venceria, vencerias, venceria, venceríamos, venceríeis, venceriam. |
Modo Subjuntivo | |
Presente | Vença, venças, vença, vençamos, vençais, vençam. |
Imperfeito | Vencesse, vencesses, vencesse, vencêssemos, vencêsseis, vencessem.. |
Futuro | Vencer, venceres, vencer, vencermos, vencerdes, vencerem. |
Modo Imperativo | |
Afirmativo | Vence, vença, vençamos, vencei, vençam. |
Negativo | Não venças, não vença, não vençamos, não vençais, não vençam. |
Formas Nominais | |
Infinitivo impessoal | Vencer. |
Infinitivo pessoal | Vencer, venceres, vencer, vencermos, vencerdes, vencerem. |
Gerúndio | Vencendo. |
Particípio | Vencido. |
Verbo Distinguir (3ª Conjugação) | |
Modo Indicativo | |
Presente | Eu distingo, Tu distingues, Ele distingue, Nós distinguimos, Vós distinguis, Eles distinguem. |
Pretérito Imperfeito | Distinguia, distinguias, distinguia, distinguíamos, distinguíeis, distinguiam. |
Pretérito Perfeito | Distingui, distinguiste, distinguiu, distinguimos, distinguistes, distinguiram. |
Mais-que-perfeito | Distinguira, distinguiras, distinguira, distinguíramos, distinguíreis, distinguiram. |
Futuro do Presente | Distinguirei, distinguirás, distinguirá, distinguiremos, distinguireis, distinguirão. |
Futuro do Pretérito | Distinguiria, distinguirias, distinguiria, distinguiríamos, distinguiríeis, distinguiriam. |
Modo Subjuntivo | |
Presente | Distinga, distingas, distinga, distingamos, distingais, distingam. |
Imperfeito | Distinguisse, distinguisses, distinguisse, distinguíssemos, distinguísseis, distinguissem. |
Futuro | Distinguir, distinguires, distinguir, distinguirmos, distinguirdes, distinguirem. |
Modo Imperativo | |
Afirmativo | Distingue, distinga, distingamos, distingui, distingam. |
Negativo | Não distingas, não distinga, não distingamos, não distingais, não distingam. |
Formas Nominais | |
Infinitivo impessoal | Distinguir. |
Infinitivo pessoal | Distinguir, distinguires, distinguir, distinguirmos, distinguirdes, distinguirem. |
Gerúndio | Distinguindo. |
Particípio | Distinguido. |
Quando se diz que os verbos regulares mantêm o mesmo radical em todas as formas não significa que ele não possa apresentar alterações gráficas. Sobre esse aspecto, Celso Cunha e Lindley Cintra (em Nova Gramática do Português Contemporâneo, Editora Nova Fronteira) chamam a atenção no sentido de não se confundir irregularidade verbal com certas discordâncias gráficas que aparecem em formas do mesmo verbo e que visam apenas a indicar-lhes a uniformidade de pronúncia dentro das convenções do nosso sistema de escrita.
Assim, de acordo com esses mesmos autores, os verbos da 1ª conjugação cujos radicais terminem em -c, -ç e -g mudam tais letras, respectivamente, em -qu, -c e -gusempre que se lhes segue um -e:
ficar - fiquei
justiçar - justicei
chegar - cheguei
Já os verbos da 2ª e da 3ª conjugação cujos radicais terminem em -c, -g e -gu mudam tais letras, respectivamente, em -ç, -j e -g sempre que se lhes segue um -o ou um -a. É o que se dá com o verbo vencer, apresentado acima como exemplo da segunda conjugação (vencer - venço - vença), e o verbo distinguir, apresentado como exemplo da terceira conjugação (distinguir - distingo - distinga) além de outros, como abaixo se vê:
tanger - tanjo - tanja
erguer - ergo - erga
restringir - restrinjo - restrinja
Verbos irregulares
Como já se disse, os verbos irregulares se afastam do paradigma, apresentando alterações ou no radical ou na flexão:a) variação no radical em comparação com o infinitivo: ouvir - ouço; dizer - digo; perder - perco; caber - caibo;
b) variação na flexão: estou - estás.
Cunha e Cintra nos apresentam uma descrição mais detida, por exemplo, da 1ª pessoa do PRESENTE DO INDICATIVO dos verbos dar e medir. Vejamos mais uma vez as observações desses autores:
a) a forma dou não recebe a desinência normal -o da referida pessoa;
b) a forma meço apresenta o radical meç-, distinto do radical med- que aparece no INFINITIVO e em outras formas do verbo: med-ir, med-es, med-i, med-ira, etc. Sendo assim, os verbos dar e medir são verbos irregulares.
No entanto, se examinarmos o PRETÉRITO IMPERFEITO DO INDICATIVO dos verbos em questão, como nos orientam os referidos autores, observaremos que as formas:
a) dava, davas, dava, dávamos, dáveis, davam se enquadram no paradigma dos verbos regulares da 1ª conjugação; e
b) media, medias, media, medíamos, medíeis, mediam, por sua vez, incorporam-se ao paradigma dos verbos regulares da 3ª conjugação.
Desta forma, conclui-se que num verbo irregular podem ocorrer determinadas formas perfeitamente regulares.
Descrição desse tipo foi o que, certamente, levou Joaquim Mattoso Câmara Jr. (emEstrutura da Língua Portuguesa, Editora Vozes) à seguinte constatação: "o que nossas gramáticas alinham, em ordem alfabética, como 'verbos irregulares', deve ser entendido como um desvio do padrão geral morfológico, que não deixa de ser 'regular', no sentido de que é suscetível a uma padronização também".
A partir dessas observações, apesar de tradicionalmente classificarmos alguns verbos como irregulares, é necessário que se façam deles uma descrição mais detalhada, para que, assim, possamos ter um melhor conhecimento da sistematicidade da língua. Fica a reflexão.
*Jorge Viana de Moraes é professor universitário em cursos de graduação e pós-graduação na área de Letras. Atualmente, mestrando em Língua Portuguesa e Filologia pela Universidade de São Paulo.
fonte:http://educacao.uol.com.br/portugues/verbos-caracteristicas.jhtm
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