Encontre em esta paginas DICAS de muitos autores brasileiros!
Mªºs a Obrª!!
1ª) TEM ou TÊM ou TEEM? VEM ou VÊM ou VEEM ou VÊEM?
Se você costuma ter esse tipo de dúvida ou já perdeu seu tempo com esse problema, observe o esquema abaixo:
1) Grupo do CRÊ-DÊ-LÊ-VÊ:
Os verbos CRER, DAR, LER e VER são os únicos que na 3ª pessoa do plural terminam em –EEM. Não esqueça que perderam o acento circunflexo, segundo o novo acordo ortográfico:
Ele crê – eles creem;
Ele dê – eles deem (=presente do subjuntivo);
Ele lê – eles leem;
Ele vê – eles veem.
Essa regra também vale para os verbos derivados:
Ele relê – eles releem;
Ele prevê – eles preveem.
2) Dupla TER e VIR:
Na 3ª pessoa do singular, não há acento gráfico; na 3ª pessoa do plural, terminam em –ÊM. Esse acento circunflexo para distinguir o plural do singular foi mantido, segundo o novo acordo ortográfico:
Ele tem – eles têm;
Ele vem – eles vêm.
3) Verbos derivados de TER e VIR: DETER, RETER, MANTER, CONVIR,
PROVIR, INTERVIR…
Na 3ª pessoa do singular, tem acento agudo; na 3ª pessoa do plural, tem acento circunflexo. Isso já era assim antes do acordo ortográfico (os acentos foram mantidos):
Ele detém – eles detêm;
Ele intervém – eles intervêm.
Cuidado!
“É preciso que vocês contem tudo.” (=verbo CONTAR);
“A garrafa contém gasolina.” (=verbo CONTER – 3ª pessoa do singular);
“As garrafas contêm gasolina.” (=verbo CONTER – 3ª pessoa do plural);
Outro perigo:
“…que eles provem…” (=verbo PROVAR, no presente do subjuntivo);
“…ele provém…” (=verbo PROVIR, na 3ª pessoa do singular);
“…eles provêm…” (=verbo PROVIR, na 3ª pessoa do plural);
“…eles proveem…” (=verbo PROVER, na 3ª pessoa do plural);
Para não esquecer:
“Eles vêm “ (=verbo VIR);
“Eles veem” (=verbo VER).
2ª) HINDU ou INDIANO?
Quem nasce na Índia é indiano. Hindu é o seguidor do Hinduísmo. Não devemos confundir nacionalidade com religião. Confusão semelhante ocorre com JUDEU e ISRAELENSE. Quem nasce em Israel é israelense. Judeu é relativo ao povo, à raça, e não à nacionalidade.
3ª) GUARDA-CHUVAS ou GUARDAS-CHUVAS?
Quando o primeiro elemento da palavra composta for verbo, somente o substantivo vai para o plural: guarda-chuvas, salva-vidas, porta-bandeiras, arranha-céus, quebra-molas, tira-gostos, beija-flores, bate-bocas…
É importante não confundir guarda-chuva com guarda-civil. Em guarda-civil, guarda é substantivo. Temos um substantivo e um adjetivo (=civil). Nesse caso, os dois vão para o plural: guardas-civis, guardas-noturnos, guardas-florestais…
Quando guarda for verbo (de guardar = proteger), somente o segundo elemento (= substantivo) vai para o plural: guarda-chuvas, guarda-roupas, guarda-louças, guarda-sóis…
No caso de guarda-costas, o problema é que a palavra costas (dorso, parte posterior) só apresenta a forma plural: “Estou com dor nas costas”. Costa, no singular, é a zona litorânea: “É linda a costa brasileira”. Assim sendo, você pode ter um guarda-costas ou vários guarda-costas.
Outra observação importante é lembrar que a forma para, do verbo parar, segundo o novo acordo ortográfico, perdeu o acento agudo: ele para. Como perdeu o acento, mas não deixou de ser verbo, a regra do plural continua valendo: para-raios, para-lamas, para-brisas, para-choques, para-sóis…
Cuidados!
a) Segundo o novo acordo ortográfico, há exceções quanto ao uso do
hífen. Devemos escrever sem hífen: mandachuva, passatempo, girassol, paraquedas, paraquedismo, paraquedista…
b) Não podemos confundir a forma para (do verbo parar), que perdeu o
acento agudo mas não o hífen (fora as exceções): para-lama, para-brisa, para-raios (mas paraquedas, paraquedismo, paraquedista) com o prefixo para (= próximo, semelhante), que nunca teve acento gráfico nem hífen: paranormal, paramédicos, paramilitares, parapsicologia, paraolimpíadas…
Temas polêmicos
qua, 22/12/10
por Sérgio Nogueira |
categoria Dicas
1. O alcoólatra e o alcoólico
A palavra álcool é de origem árabe e “latra” vem do grego. A raiz grega “latria” significa “adoração” (idolatria = adoração de ídolos; egolatria = adoração de si mesmo, do próprio “eu”). Assim sendo, alcoólatra é “quem adora álcool”, é o “viciado em bebidas alcoólicas”.
A Associação dos Alcoólicos Anônimos (AAA) deveria ser chamada de “Associação dos Alcoólatras Anônimos”. A troca de alcoólatra por alcoólico se deve, provavelmente, à carga negativa que a palavra alcoólatra apresenta: é como se fosse sinônimo de “doente irrecuperável, viciado sem salvação”. O uso de alcoólico por alcoólatra é praticamente um eufemismo, ou seja, uma forma mais suave de dizer a mesma coisa.
De eufemismos a nossa linguagem está cheia: “faltar com a verdade ou dizer inverdades” por mentir; “enriquecer por meios ilícitos” por roubar; “descansar, entregar a alma ao Criador e bater as botas” por morrer; “tumor maligno” por câncer; “portador do vírus da Aids” por aidético…
É interessante observar que o uso de eufemismos se dá por vários motivos: ironia, medo de ser grosseiro, atenuar o fato, ridicularizar o caso… O aspecto psicológico está sempre presente.
Alcoólico, na sua origem, é um adjetivo e significa “relativo ao álcool ou o que contém álcool”. Daí as bebidas alcoólicas, ou seja, bebidas que contêm álcool. Entretanto é importante observar que os dicionários Aurélio e Houaiss consideram alcoólico como sinônimo de alcoólatra também.
Portanto, no caso dos “Alcoólicos Anônimos”, a opção por alcoólico não está errada. É uma questão eufêmica, ou seja, a preferência por uma palavra de carga mais leve, mais suave.
Outra curiosidade é a palavra alcoolista, também registrada em nossos dicionários como uma forma menos usada. Seria uma alternativa para alcoólico, pois me parece que alcoolista não tem a carga negativa de alcoólatra.
Por fim, a ortografia. Em álcool, o acento agudo se deve ao fato de a palavra ser proparoxítona. Alcoólico e alcoólatra também são palavras proparoxítonas. O detalhe é o acento agudo no segundo “ó”.
Certa vez, ao entrar numa pequena cidade do interior de São Paulo, encontrei uma placa: “Aqui tem Alcóolicos Anônimos”. O acento agudo no primeiro “ó” indica a possibilidade de que o autor da placa estivesse de porre.
2. Elipse ou eclipse
O eclipse é aquele fenômeno em que há o ocultamento do Sol ou da Lua. Nós sabemos que eles estão lá, mas não os vemos.
A elipse é uma figura de estilo semelhante. Ocorre quando um termo fica oculto, mas nós sabemos qual é. A elipse mais conhecida é a do sujeito. É o famoso sujeito oculto. Não é necessário dizermos que “nós solicitamos aos senhores que…” Basta “solicitamos”. Pela desinência do verbo (-mos), já sabemos que o sujeito da oração só pode ser “nós”.
Outra elipse interessante é aquela em que usamos uma pausa (=vírgula) para marcar a supressão do verbo, para evitar a repetição: “Ele não nos entende nem nós, a ele”. Nesse caso, também chamada de zeugma, a vírgula substitui a forma verbal: “nem nós entendemos a ele”.
A elipse também ocorre em várias expressões do dia a dia, como: “querem cassar o senador”; “ele só nadou a prova dos 100 metros livre”.
No primeiro caso, subentende-se “cassar o mandato do senador”; e no último, “100 metros nado (ou estilo) livre”.
É importante observar que a boa elipse é aquela que não prejudica a clareza da frase.
Leitor reclama e quer saber a minha opinião a respeito do que ele julga ser um péssimo hábito: o de agradecer dizendo “obrigado eu”.
É como eu costumo afirmar: não devemos reduzir tudo à simplista discussão de certo ou errado.
Num agradecimento, o uso da palavra “obrigado” já caracteriza uma abreviação, pois se origina da frase “estou obrigado a retribuir-lhe o favor”. Em razão disso, a mulher deve dizer “obrigada”.
Assim sendo, a expressão “obrigado eu” não está errada. É apenas uma forma popular, abreviada e até certo ponto carinhosa, de dizer que “quem está obrigado a agradecer sou eu”.
3. Ele corre risco de vida ou de morte?
Temos agora uma seleção de casos incoerentes ou absurdos. São situações semelhantes ao do famoso “correr atrás do prejuízo”. Só louco corre atrás do prejuízo. Do prejuízo eu fujo. Eu corro “atrás do lucro”.
Outro caso curioso é o “correr risco de vida”. Rigorosamente, nós corremos “risco de morte”. Nós não corremos “o risco de viver”, e sim “o risco de morrer”. Nós sempre corremos o risco de alguma coisa ruim. Ninguém “corre o risco de ser promovido”, mas corre o risco de ser demitido. Ninguém “corre o risco de ganhar na loteria”, mas corre o risco de perder todo o dinheiro no jogo, de ser roubado, de ir à falência…
Não é uma questão de certo ou errado. É apenas curioso. Trata-se de mais uma elipse. Eu sei que está subentendido: “correr o risco de perder a vida”. Portanto, as duas formas são corretas.
Parecidíssimo com o caso anterior é a tal da “crise do desemprego”. Ora, na verdade, quem está em crise é o EMPREGO. Infelizmente, o desemprego vai bem. Creio que hoje nós vivemos uma “crise de emprego”.
Também merece destaque a tal mania de “tirar a pressão”. Se eu “tirar a pressão”, morro. É melhor medir ou verificar a pressão.
O assunto é muito interessante e ainda haveria muitos outros casos para analisar. Vou deixar mais alguns para você “quebrar sua cabeça”:
“Dividiu o bolo em três metades”;
“O anexo segue em separado”;
“Eram dois homossexuais e uma lésbica”;
“Estou preso do lado de fora”;
“Por favor, me inclua fora disso”…
Temas polêmicos
qua, 15/12/10
por snogueira.sn |
categoria Dicas
1. Existe Língua Brasileira?
Aqui no Brasil nós ainda falamos a língua portuguesa. Temos, na minha opinião, um falar brasileiro, que seria um modo brasileiro de usar a língua portuguesa.
O português culto do Brasil é bem semelhante ao português culto de Portugal. Isso significa, portanto, que as diferenças maiores estão na linguagem do dia a dia.
O que existe são variantes linguísticas:
a) variantes geográficas: nacionais (Brasil, Portugal, Angola…) e regionais (falar gaúcho, mineiro, baiano, pernambucano…);
b) variantes socioeconômicas (vulgar, popular, coloquial, culto…);
c) variantes expressivas (linguagem da prosa, linguagem poética).
O importante mesmo é respeitar as diferenças, sejam fonéticas, semânticas ou sintáticas. Vejamos rapidamente algumas diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal.
Uma diferença fonética bem “visível” é a pronúncia das vogais. Aqui no Brasil, nós pronunciamos bem todas as vogais, sejam tônicas ou átonas. Em Portugal, a tendência é só pronunciar bem as vogais tônicas. As vogais átonas são verdadeiramente átonas (=fracas). Uma consequência disso é a colocação dos pronomes átonos (me, te, se, o, lhe, nos…). Em Portugal, por ter a pronúncia fraca, não se põe o pronome átono no início da frase: “Dê-me um cigarro”; no Brasil, como as vogais átonas são pronunciadas como se fossem tônicas, não temos nenhuma dificuldade em pôr os pronomes átonos no início da frase: “Me dá um cigarro”. É assim que o brasileiro fala. E quando me refiro ao brasileiro, estou falando do brasileiro em geral, de todos os níveis sociais e culturais. Não estou fazendo referência ao “povo” com aquela conotação pejorativa e discriminatória que alguns ainda atribuem à palavra.
Diferenças semânticas existem muitas. Algumas famosas já viraram até piada. Em Portugal, “uma bicha enorme” não é nada mais do que “uma fila imensa”, sem nenhuma outra conotação que algum brasileiro queira dar.
E diferenças sintáticas também existem. No Brasil, nós preferimos o gerúndio (“Estamos trabalhando”); em Portugal, preferem o infinitivo (“Estamos a trabalhar”). No Brasil, gostamos da forma “você”; em Portugal, usam mais o pronome “vos”: “Se eu lesse para vocês” e “Se eu vos lesse”. Aqui “falar consigo” é “falar com si mesmo”; em Portugal “falar consigo” é “falar com você”. Em Portugal, é frequente o uso de “mais pequeno”; no Brasil, aprendemos que o certo é falar “menor”, que “mais pequeno” é “errado”.
E assim voltamos ao ponto de partida: a eterna briga do certo e do errado. Espero que me perdoem pela repetição, mas não é uma questão simplista de certo ou errado. É uma questão de adequação. Usar “mais pequeno” no Brasil é tão inadequado quanto iniciar uma frase com um pronome átono em Portugal.
Por que eu teria de afirmar que alguém está falando “errado” quando o carioca fala “sinal”, o paulista prefere “farol” e o gaúcho usa “sinaleira”? Afinal das contas, é tudo semáforo.
2. Velharias ou antiguidades?
Assunto sempre interessante e polêmico é a história das cargas que algumas palavras apresentam.
Você se lembra da história da moratória? É moratória ou é calote? Dizem que não são sinônimos. Agora, independentemente de serem sinônimos ou não, uma certeza nós temos: quem chama moratória de calote está contra, ou seja, a palavra calote tem carga negativa.
Outro bom exemplo ocorreu na entrevista de um eminente político americano. Em inglês, o verbo to support (=dar suporte, apoiar) foi traduzido por “suportar”, o que causou certos constrangimentos no Brasil. A reclamação não se deve só à má tradução, mas sim a carga que o verbo suportar tem aqui no Brasil.
Já que falamos no assunto, é bom observarmos algumas diferenças existentes entre o português do Brasil e o de Portugal. Um caso curioso é o uso da palavra VELHARIA, que no Brasil tem carga pejorativa, negativa. Em Portugal, é comum encontrarmos lojas de antiguidades “a vender velharias”, como eles falam.
Curiosamente, certa vez encontrei um cartaz: COMPRO VELHARIAS – VENDO ANTIGUIDADES. Será que por lá eles também já estão fazendo a mesma diferença que nós fazemos por aqui?
Por fim, um episódio que me deixou intrigado. Falando com um motorista nascido na cidade do Porto, comentei sobre a venda de um jogador brasileiro para um clube italiano. Resposta do motorista português: “O Porto está aqui a despachar jogadores brasileiros para o resto da Europa.” O uso do verbo DESPACHAR me causou certa estranheza. Pensei que eles não estavam satisfeitos com o futebol do nosso craque. Eu estava enganado, já que o motorista, torcedor do Porto (adepto, como eles dizem), lamentava a venda do jogador brasileiro para a Itália.
Percebi, então, que não havia em DESPACHAR a carga negativa que eu estava atribuindo ao verbo. Significava apenas “passar adiante”, sem a carga negativa de “livrar-se” com a qual nós aqui no Brasil muitas vezes usamos o verbo DESPACHAR.
Portanto, se você não “suporta” o “caloteiro” que vende “velharias”, é melhor “despachá-lo” para bem longe.
Aqui no Brasil nós ainda falamos a língua portuguesa. Temos, na minha opinião, um falar brasileiro, que seria um modo brasileiro de usar a língua portuguesa.
O português culto do Brasil é bem semelhante ao português culto de Portugal. Isso significa, portanto, que as diferenças maiores estão na linguagem do dia a dia.
O que existe são variantes linguísticas:
a) variantes geográficas: nacionais (Brasil, Portugal, Angola…) e regionais (falar gaúcho, mineiro, baiano, pernambucano…);
b) variantes socioeconômicas (vulgar, popular, coloquial, culto…);
c) variantes expressivas (linguagem da prosa, linguagem poética).
O importante mesmo é respeitar as diferenças, sejam fonéticas, semânticas ou sintáticas. Vejamos rapidamente algumas diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal.
Uma diferença fonética bem “visível” é a pronúncia das vogais. Aqui no Brasil, nós pronunciamos bem todas as vogais, sejam tônicas ou átonas. Em Portugal, a tendência é só pronunciar bem as vogais tônicas. As vogais átonas são verdadeiramente átonas (=fracas). Uma consequência disso é a colocação dos pronomes átonos (me, te, se, o, lhe, nos…). Em Portugal, por ter a pronúncia fraca, não se põe o pronome átono no início da frase: “Dê-me um cigarro”; no Brasil, como as vogais átonas são pronunciadas como se fossem tônicas, não temos nenhuma dificuldade em pôr os pronomes átonos no início da frase: “Me dá um cigarro”. É assim que o brasileiro fala. E quando me refiro ao brasileiro, estou falando do brasileiro em geral, de todos os níveis sociais e culturais. Não estou fazendo referência ao “povo” com aquela conotação pejorativa e discriminatória que alguns ainda atribuem à palavra.
Diferenças semânticas existem muitas. Algumas famosas já viraram até piada. Em Portugal, “uma bicha enorme” não é nada mais do que “uma fila imensa”, sem nenhuma outra conotação que algum brasileiro queira dar.
E diferenças sintáticas também existem. No Brasil, nós preferimos o gerúndio (“Estamos trabalhando”); em Portugal, preferem o infinitivo (“Estamos a trabalhar”). No Brasil, gostamos da forma “você”; em Portugal, usam mais o pronome “vos”: “Se eu lesse para vocês” e “Se eu vos lesse”. Aqui “falar consigo” é “falar com si mesmo”; em Portugal “falar consigo” é “falar com você”. Em Portugal, é frequente o uso de “mais pequeno”; no Brasil, aprendemos que o certo é falar “menor”, que “mais pequeno” é “errado”.
E assim voltamos ao ponto de partida: a eterna briga do certo e do errado. Espero que me perdoem pela repetição, mas não é uma questão simplista de certo ou errado. É uma questão de adequação. Usar “mais pequeno” no Brasil é tão inadequado quanto iniciar uma frase com um pronome átono em Portugal.
Por que eu teria de afirmar que alguém está falando “errado” quando o carioca fala “sinal”, o paulista prefere “farol” e o gaúcho usa “sinaleira”? Afinal das contas, é tudo semáforo.
2. Velharias ou antiguidades?
Assunto sempre interessante e polêmico é a história das cargas que algumas palavras apresentam.
Você se lembra da história da moratória? É moratória ou é calote? Dizem que não são sinônimos. Agora, independentemente de serem sinônimos ou não, uma certeza nós temos: quem chama moratória de calote está contra, ou seja, a palavra calote tem carga negativa.
Outro bom exemplo ocorreu na entrevista de um eminente político americano. Em inglês, o verbo to support (=dar suporte, apoiar) foi traduzido por “suportar”, o que causou certos constrangimentos no Brasil. A reclamação não se deve só à má tradução, mas sim a carga que o verbo suportar tem aqui no Brasil.
Já que falamos no assunto, é bom observarmos algumas diferenças existentes entre o português do Brasil e o de Portugal. Um caso curioso é o uso da palavra VELHARIA, que no Brasil tem carga pejorativa, negativa. Em Portugal, é comum encontrarmos lojas de antiguidades “a vender velharias”, como eles falam.
Curiosamente, certa vez encontrei um cartaz: COMPRO VELHARIAS – VENDO ANTIGUIDADES. Será que por lá eles também já estão fazendo a mesma diferença que nós fazemos por aqui?
Por fim, um episódio que me deixou intrigado. Falando com um motorista nascido na cidade do Porto, comentei sobre a venda de um jogador brasileiro para um clube italiano. Resposta do motorista português: “O Porto está aqui a despachar jogadores brasileiros para o resto da Europa.” O uso do verbo DESPACHAR me causou certa estranheza. Pensei que eles não estavam satisfeitos com o futebol do nosso craque. Eu estava enganado, já que o motorista, torcedor do Porto (adepto, como eles dizem), lamentava a venda do jogador brasileiro para a Itália.
Percebi, então, que não havia em DESPACHAR a carga negativa que eu estava atribuindo ao verbo. Significava apenas “passar adiante”, sem a carga negativa de “livrar-se” com a qual nós aqui no Brasil muitas vezes usamos o verbo DESPACHAR.
Portanto, se você não “suporta” o “caloteiro” que vende “velharias”, é melhor “despachá-lo” para bem longe.
Temas polêmicos
qua, 08/12/10
por snogueira.sn |
categoria Dicas
1. Salada de Estrangeirismos
Salada tem sua origem na palavra “sal”. Em razão disso, alguns críticos querem rejeitar a expressão “salada de frutas”, pois não haveria sal.
A realidade, porém, é que a palavra “salada”, hoje em dia, significa “mistura”. Assim sendo, nada contra uma gostosa salada de frutas, ou até de vegetais mesmo sem sal.
A salada que incomoda não é a de frutas. Outro dia, num fino restaurante, estava lá no cardápio – ou “menu”, como preferem os mais sofisticados – “espaguete à la bolognese”.
É muita frescura. Sempre condenei o uso desnecessário de estrangeirismos. Se o objetivo é sofisticar o “menu”, pelo menos que se escreva numa língua só: tudo em francês ou em inglês ou em italiano, como queiram. O que me incomoda é a “mistureba”. Se o espaguete já está devidamente aportuguesado, devemos fazer o serviço completo: “espaguete à bolonhesa”.
É importante lembrar que várias palavras estrangeiras já foram aportuguesadas e são bem aceitas: lasanha, nhoque, espaguete (do italiano); abajur, detalhe, chofer (do francês); futebol, blecaute, estressado (do inglês) ; chope, chucrute (do alemão)…
Isso não significa que temos de aportuguesar todos os estrangeirismos. Existem aqueles que já estão consagrados e permanecem entre nós na sua forma original: show, marketing, dumping, software, réveillon, pizza…
O que não dá para entender é a salada. É o caso da “ene-bi-ei”. Ao se referir à liga americana de basquete (=NBA), alguns jornalistas querem sofisticar a fala e acabam misturando as bolas: “ene” é português e “bi-ei” é inglês. Ou pronuncia tudo em inglês, se souber, ou por que não simplificar: “ene-be-a”, assim como “de-ene-a” (DNA), “efe-be-i” (FBI), “eme-be-a” (MBA)…
Pior ainda é o “disk-pizza”. Aí a salada é completa: nada contra o italiano. Não me oponho à italianíssima pizza, mas tudo contra o suspeitíssimo “disk”. Deve ser uma tentativa de escrever em inglês o nosso “disque”, do verbo discar. Para quem não sabe, em inglês não existe o verbo “to disk”. Discar em inglês é “to dial”.
É muita salada na pizza de muçarela.
2. O check list está atachado no e-mail.
A luta contra os estrangeirismos não é de hoje. Houve época em que a invasão dos galicismos (=palavras de origem francesa) nos deixava com os cabelos em pé. Hoje convivemos pacificamente com abajur, chofer, buquê, bufê, filé, balé, chique, maquiagem, toalete e tantas outras.
Quanto às palavras de origem inglesa, temos um problema muito sério. De um lado os puristas que rejeitam tudo. Não vejo como evitar palavras como software, marketing, dumping e outras cuja tradução não é precisa.
No lado oposto, encontramos aqueles que “topam tudo”. Bobeou, lá vem o inglês. Aí é um festival: shopping center, play off, outdoor, happy end, happy hour, approach, braimtorming, paper, release, hot dog…
Difícil é ser moderado.
Todo brasileiro deve, antes de mais nada, defender a língua portuguesa. Precisamos preservá-la. Isso não significa ser purista, mas a tradução do estrangeirismo deve ser a primeira opção. Vejamos alguns exemplos:
1º) Para que startar ou estartar, se podemos simplesmente iniciar, principiar ou começar?
2º) Por que linkar ou lincar? Não é mais fácil conectar, unir ou ligar?
3º) Embora e-mail esteja consagrado, poderíamos insistir no correio eletrônico.
4º) Check list é mania de usar termos ingleses desnecessários. Lista de verificação é perfeita.
5º) Beach soccer é macaquice. Futebol de areia (=5 contra 5) é ótimo. Além do mais, não confunde com futebol de praia (=tradicional 11 contra 11).
Não havendo tradução eficaz, devemos preferir a forma aportuguesada: blecaute é forma já consagrada; por que stress, se todos dizem estressado (serviço completo: estresse – estressado); contêiner é outra forma consagrada. Podemos incluir mais alguns exemplos: fôlder, pôster, hambúrguer, blêizer…
Resta uma pergunta: e se a tradução não for eficaz e se o aportuguesamento não estiver consagrado?
Bem, isso significa que a polêmica não acaba aqui.
3. PÉGO ou PÊGO?
Ele foi “pégo” em flagrante ou foi “pêgo” em flagrante? É a dúvida de muita gente boa.
Antes de tudo, é importante lembrar que não são todos os estudiosos da nossa língua que aceitam a forma “pego” para particípio do verbo PEGAR. Segundo a tradição, o verdadeiro particípio de PEGAR é PEGADO.
Eu até aceito que se diga que “ele tinha pegado os documentos que estavam sobre a mesa”, mas dizer que “ele foi pegado em flagrante” é ignorar a realidade linguística do português falado no Brasil.
Assim sendo, o particípio “pego” é uma variante (pego/pegado) tão aceitável quanto aceito (aceitado), salvo (salvado), entregue (entregado), pago (pagado), ganho (ganhado), gasto (gastado)…
Quanto à pronúncia (“pégo” ou “pêgo”), é uma questão regional. No Rio de Janeiro, há uma visível (ou seria audível?) preferência pelo timbre aberto: “Ele foi pego (/é/) em flagrante”. Em São Paulo e em quase todo o sul do país, prefere-se o timbre fechado: “Ele foi pego (/ê/) em flagrante”.
Não é, portanto, uma questão de certo ou errado. São variações de pronúncia totalmente válidas. Não há por que impor uma pronúncia como certa e outra como errada.
Regionalismo é riqueza.
Salada tem sua origem na palavra “sal”. Em razão disso, alguns críticos querem rejeitar a expressão “salada de frutas”, pois não haveria sal.
A realidade, porém, é que a palavra “salada”, hoje em dia, significa “mistura”. Assim sendo, nada contra uma gostosa salada de frutas, ou até de vegetais mesmo sem sal.
A salada que incomoda não é a de frutas. Outro dia, num fino restaurante, estava lá no cardápio – ou “menu”, como preferem os mais sofisticados – “espaguete à la bolognese”.
É muita frescura. Sempre condenei o uso desnecessário de estrangeirismos. Se o objetivo é sofisticar o “menu”, pelo menos que se escreva numa língua só: tudo em francês ou em inglês ou em italiano, como queiram. O que me incomoda é a “mistureba”. Se o espaguete já está devidamente aportuguesado, devemos fazer o serviço completo: “espaguete à bolonhesa”.
É importante lembrar que várias palavras estrangeiras já foram aportuguesadas e são bem aceitas: lasanha, nhoque, espaguete (do italiano); abajur, detalhe, chofer (do francês); futebol, blecaute, estressado (do inglês) ; chope, chucrute (do alemão)…
Isso não significa que temos de aportuguesar todos os estrangeirismos. Existem aqueles que já estão consagrados e permanecem entre nós na sua forma original: show, marketing, dumping, software, réveillon, pizza…
O que não dá para entender é a salada. É o caso da “ene-bi-ei”. Ao se referir à liga americana de basquete (=NBA), alguns jornalistas querem sofisticar a fala e acabam misturando as bolas: “ene” é português e “bi-ei” é inglês. Ou pronuncia tudo em inglês, se souber, ou por que não simplificar: “ene-be-a”, assim como “de-ene-a” (DNA), “efe-be-i” (FBI), “eme-be-a” (MBA)…
Pior ainda é o “disk-pizza”. Aí a salada é completa: nada contra o italiano. Não me oponho à italianíssima pizza, mas tudo contra o suspeitíssimo “disk”. Deve ser uma tentativa de escrever em inglês o nosso “disque”, do verbo discar. Para quem não sabe, em inglês não existe o verbo “to disk”. Discar em inglês é “to dial”.
É muita salada na pizza de muçarela.
2. O check list está atachado no e-mail.
A luta contra os estrangeirismos não é de hoje. Houve época em que a invasão dos galicismos (=palavras de origem francesa) nos deixava com os cabelos em pé. Hoje convivemos pacificamente com abajur, chofer, buquê, bufê, filé, balé, chique, maquiagem, toalete e tantas outras.
Quanto às palavras de origem inglesa, temos um problema muito sério. De um lado os puristas que rejeitam tudo. Não vejo como evitar palavras como software, marketing, dumping e outras cuja tradução não é precisa.
No lado oposto, encontramos aqueles que “topam tudo”. Bobeou, lá vem o inglês. Aí é um festival: shopping center, play off, outdoor, happy end, happy hour, approach, braimtorming, paper, release, hot dog…
Difícil é ser moderado.
Todo brasileiro deve, antes de mais nada, defender a língua portuguesa. Precisamos preservá-la. Isso não significa ser purista, mas a tradução do estrangeirismo deve ser a primeira opção. Vejamos alguns exemplos:
1º) Para que startar ou estartar, se podemos simplesmente iniciar, principiar ou começar?
2º) Por que linkar ou lincar? Não é mais fácil conectar, unir ou ligar?
3º) Embora e-mail esteja consagrado, poderíamos insistir no correio eletrônico.
4º) Check list é mania de usar termos ingleses desnecessários. Lista de verificação é perfeita.
5º) Beach soccer é macaquice. Futebol de areia (=5 contra 5) é ótimo. Além do mais, não confunde com futebol de praia (=tradicional 11 contra 11).
Não havendo tradução eficaz, devemos preferir a forma aportuguesada: blecaute é forma já consagrada; por que stress, se todos dizem estressado (serviço completo: estresse – estressado); contêiner é outra forma consagrada. Podemos incluir mais alguns exemplos: fôlder, pôster, hambúrguer, blêizer…
Resta uma pergunta: e se a tradução não for eficaz e se o aportuguesamento não estiver consagrado?
Bem, isso significa que a polêmica não acaba aqui.
3. PÉGO ou PÊGO?
Ele foi “pégo” em flagrante ou foi “pêgo” em flagrante? É a dúvida de muita gente boa.
Antes de tudo, é importante lembrar que não são todos os estudiosos da nossa língua que aceitam a forma “pego” para particípio do verbo PEGAR. Segundo a tradição, o verdadeiro particípio de PEGAR é PEGADO.
Eu até aceito que se diga que “ele tinha pegado os documentos que estavam sobre a mesa”, mas dizer que “ele foi pegado em flagrante” é ignorar a realidade linguística do português falado no Brasil.
Assim sendo, o particípio “pego” é uma variante (pego/pegado) tão aceitável quanto aceito (aceitado), salvo (salvado), entregue (entregado), pago (pagado), ganho (ganhado), gasto (gastado)…
Quanto à pronúncia (“pégo” ou “pêgo”), é uma questão regional. No Rio de Janeiro, há uma visível (ou seria audível?) preferência pelo timbre aberto: “Ele foi pego (/é/) em flagrante”. Em São Paulo e em quase todo o sul do país, prefere-se o timbre fechado: “Ele foi pego (/ê/) em flagrante”.
Não é, portanto, uma questão de certo ou errado. São variações de pronúncia totalmente válidas. Não há por que impor uma pronúncia como certa e outra como errada.
Regionalismo é riqueza.
Temas polêmicos
qua, 01/12/10
por snogueira.sn |
categoria Dicas
1. Cuidado com os modismos!
Volta e meia surgem termos e expressões que caem no gosto popular, e o brasileiro sai usando como se fosse alguma coisa “superior”, como se estivesse falando melhor e mais bonito.
O mais incrível é que muitos desses modismos nascem entre pessoas consideradas intelectualmente cultas.
Fora o famoso A NÍVEL DE, que julgo estar morto mas ainda não devidamente enterrado, há outros que sobrevivem garbosamente.
Entre executivos, empresários, consultores e outras categorias profissionais, é frequente ouvirmos “coisas” do tipo: “nicho de mercado”, “agregar valor”, “alavancar negócios”, “problemas pontuais” e assim por diante.
Nada errado, o que incomoda é a repetição, é o uso excessivo. Isso é pobreza de estilo.
É interessante observarmos o mau uso do adjetivo PONTUAL, que vem do inglês e significa “específico, restrito”. Em português, é bom lembrar, PONTUAL é “quem chega na hora marcada, quem cumpre o horário estabelecido”. Portanto, essa história de “problemas pontuais” pode causar confusão. É bobagem. É a mania de achar que falar bem é falar difícil.
Outro modismo que merece destaque é o verbo SINALIZAR. Esse invadiu gloriosamente a linguagem jornalística: “A decisão do governo sinaliza manutenção da política cambial”; “A alta do dólar sinaliza uma elevação dos preços em geral”; “Opção por Jorginho sinaliza que o Flamengo jogará defensivamente”…
É muita gente “fazendo sinal” por aí. Parece até guarda de trânsito desesperado. Por que não INDICAR ou APONTAR?
É bom trocar de vez em quando.
2. Complicado é difícil
Hoje em dia, tudo que está difícil é complicado.
Se a solução é difícil, a solução está complicada. Se a situação não está nada boa, ela está complicada. Se o jogo é contra qualquer time argentino, será um jogo complicado. Se a polícia não consegue resolver o caso, é porque o caso é complicado.
Complicado virou moda. Tudo é complicado. É complicado até explicar por que o brasileiro gosta tanto da palavra.
Complicado, verdadeiramente, é o que não é simples. E difícil é o que não é fácil. Difícil e complicado não são necessariamente sinônimos.
O brasileiro em geral, pouco orgulhoso do seu idioma, costuma afirmar que a língua portuguesa é a mais difícil do mundo. É a nossa mania de grandeza: queremos ter o maior rio do mundo, o maior estádio de futebol do mundo, o rei do futebol. Então, por que não a língua mais difícil do mundo?
É tão “difícil” que qualquer criancinha brasileira, mesmo de classes sociais menos favorecidas, consegue falar, comunicar-se em língua portuguesa.
Linguisticamente não há línguas difíceis ou fáceis. Em geral, confundimos língua com gramática, falar com “falar corretamente”.
A língua portuguesa atende às nossas necessidades de comunicação como qualquer outra língua. “Complicado” é comparar a “dificuldade” da nossa gramática com a “simplicidade” da língua inglesa. O inglês não é mais fácil. Se você acha que a gramática da língua inglesa é mais simples, não significa que a língua portuguesa seja “a mais difícil do mundo”. Se isso fosse verdade, seria interessante comparar com o alemão, o russo, o chinês, o árabe, o hebraico…
Complicado, como dizem hoje, é ensinar o brasileiro a usar a chamada língua padrão. O primeiro problema é definir qual é a língua portuguesa padrão, o que é ou não aceitável. E o problema maior está no sistema de ensino brasileiro, mais especificamente no ensino da própria língua portuguesa. É aqui que entra a figura do professor. Além de educar e motivar, sua função é a de descomplicar, facilitar o aprendizado.
“Complicado” mesmo é exigir tudo isso de um profissional em geral malformado, certamente mal pago, sem maiores estímulos, sem condições de trabalho.
O Português não é difícil. “Complicada” está a educação no nosso país.
3. Tem advérbio sobrando por aí
A linguagem esportiva é sempre muito rica em “invencionices” linguísticas. Com certa frequência, ouvimos pérolas como “o atacante estava LITERALMENTE impedido”. Ora, o advérbio LITERALMENTE, além de mal usado, é desnecessário.
LITERALMENTE significa “de modo literal”, vem do latim e quer dizer “com todas as letras”. Uma tradução literal é aquela que é feita com todas as letras, fiel ao texto original, sem fazer nenhuma alteração.
Assim sendo, usarmos LITERALMENTE com o sentido de “completamente, inteiramente” é bobagem.
É importante observarmos também que, se substituíssemos “literalmente impedido” por “completamente impedido”, seria outra besteira. Se ninguém pode ficar “parcialmente impedido”, dizer que “o atacante ficou COMPLETAMENTE impedido” é redundante, é desnecessário.
Outra expressão adverbial que vem sendo mal usada é o famoso COM CERTEZA. É comum ouvirmos jogador de futebol responder à pergunta do repórter: “Com certeza, se Deus ajudar e eu me recuperar, e se o técnico me der uma chance, no próximo domingo estarei em campo”. Ora, o nosso craque só tem dúvidas. De onde saiu o COM CERTEZA?
COM CERTEZA virou bengala, ou seja, aquela expressão que virou moda e muita gente usa antes de dizer qualquer coisa, mesmo quando não tem certeza.
É bom lembrar que COM CERTEZA e o advérbio CERTAMENTE existem e podem ser usados, desde que haja uma ideia afirmativa: “O diretor comparecerá à reunião COM CERTEZA” e “eu CERTAMENTE estarei de volta no próximo domingo”.
Volta e meia surgem termos e expressões que caem no gosto popular, e o brasileiro sai usando como se fosse alguma coisa “superior”, como se estivesse falando melhor e mais bonito.
O mais incrível é que muitos desses modismos nascem entre pessoas consideradas intelectualmente cultas.
Fora o famoso A NÍVEL DE, que julgo estar morto mas ainda não devidamente enterrado, há outros que sobrevivem garbosamente.
Entre executivos, empresários, consultores e outras categorias profissionais, é frequente ouvirmos “coisas” do tipo: “nicho de mercado”, “agregar valor”, “alavancar negócios”, “problemas pontuais” e assim por diante.
Nada errado, o que incomoda é a repetição, é o uso excessivo. Isso é pobreza de estilo.
É interessante observarmos o mau uso do adjetivo PONTUAL, que vem do inglês e significa “específico, restrito”. Em português, é bom lembrar, PONTUAL é “quem chega na hora marcada, quem cumpre o horário estabelecido”. Portanto, essa história de “problemas pontuais” pode causar confusão. É bobagem. É a mania de achar que falar bem é falar difícil.
Outro modismo que merece destaque é o verbo SINALIZAR. Esse invadiu gloriosamente a linguagem jornalística: “A decisão do governo sinaliza manutenção da política cambial”; “A alta do dólar sinaliza uma elevação dos preços em geral”; “Opção por Jorginho sinaliza que o Flamengo jogará defensivamente”…
É muita gente “fazendo sinal” por aí. Parece até guarda de trânsito desesperado. Por que não INDICAR ou APONTAR?
É bom trocar de vez em quando.
2. Complicado é difícil
Hoje em dia, tudo que está difícil é complicado.
Se a solução é difícil, a solução está complicada. Se a situação não está nada boa, ela está complicada. Se o jogo é contra qualquer time argentino, será um jogo complicado. Se a polícia não consegue resolver o caso, é porque o caso é complicado.
Complicado virou moda. Tudo é complicado. É complicado até explicar por que o brasileiro gosta tanto da palavra.
Complicado, verdadeiramente, é o que não é simples. E difícil é o que não é fácil. Difícil e complicado não são necessariamente sinônimos.
O brasileiro em geral, pouco orgulhoso do seu idioma, costuma afirmar que a língua portuguesa é a mais difícil do mundo. É a nossa mania de grandeza: queremos ter o maior rio do mundo, o maior estádio de futebol do mundo, o rei do futebol. Então, por que não a língua mais difícil do mundo?
É tão “difícil” que qualquer criancinha brasileira, mesmo de classes sociais menos favorecidas, consegue falar, comunicar-se em língua portuguesa.
Linguisticamente não há línguas difíceis ou fáceis. Em geral, confundimos língua com gramática, falar com “falar corretamente”.
A língua portuguesa atende às nossas necessidades de comunicação como qualquer outra língua. “Complicado” é comparar a “dificuldade” da nossa gramática com a “simplicidade” da língua inglesa. O inglês não é mais fácil. Se você acha que a gramática da língua inglesa é mais simples, não significa que a língua portuguesa seja “a mais difícil do mundo”. Se isso fosse verdade, seria interessante comparar com o alemão, o russo, o chinês, o árabe, o hebraico…
Complicado, como dizem hoje, é ensinar o brasileiro a usar a chamada língua padrão. O primeiro problema é definir qual é a língua portuguesa padrão, o que é ou não aceitável. E o problema maior está no sistema de ensino brasileiro, mais especificamente no ensino da própria língua portuguesa. É aqui que entra a figura do professor. Além de educar e motivar, sua função é a de descomplicar, facilitar o aprendizado.
“Complicado” mesmo é exigir tudo isso de um profissional em geral malformado, certamente mal pago, sem maiores estímulos, sem condições de trabalho.
O Português não é difícil. “Complicada” está a educação no nosso país.
3. Tem advérbio sobrando por aí
A linguagem esportiva é sempre muito rica em “invencionices” linguísticas. Com certa frequência, ouvimos pérolas como “o atacante estava LITERALMENTE impedido”. Ora, o advérbio LITERALMENTE, além de mal usado, é desnecessário.
LITERALMENTE significa “de modo literal”, vem do latim e quer dizer “com todas as letras”. Uma tradução literal é aquela que é feita com todas as letras, fiel ao texto original, sem fazer nenhuma alteração.
Assim sendo, usarmos LITERALMENTE com o sentido de “completamente, inteiramente” é bobagem.
É importante observarmos também que, se substituíssemos “literalmente impedido” por “completamente impedido”, seria outra besteira. Se ninguém pode ficar “parcialmente impedido”, dizer que “o atacante ficou COMPLETAMENTE impedido” é redundante, é desnecessário.
Outra expressão adverbial que vem sendo mal usada é o famoso COM CERTEZA. É comum ouvirmos jogador de futebol responder à pergunta do repórter: “Com certeza, se Deus ajudar e eu me recuperar, e se o técnico me der uma chance, no próximo domingo estarei em campo”. Ora, o nosso craque só tem dúvidas. De onde saiu o COM CERTEZA?
COM CERTEZA virou bengala, ou seja, aquela expressão que virou moda e muita gente usa antes de dizer qualquer coisa, mesmo quando não tem certeza.
É bom lembrar que COM CERTEZA e o advérbio CERTAMENTE existem e podem ser usados, desde que haja uma ideia afirmativa: “O diretor comparecerá à reunião COM CERTEZA” e “eu CERTAMENTE estarei de volta no próximo domingo”.
Temas polêmicos
qua, 24/11/10
por snogueira.sn |
categoria Dicas
1. A riqueza dos neologismos
O uso de neologismos (=palavras novas, sem registro em nossos dicionários) é sempre um assunto polêmico. Há aqueles que rejeitam qualquer novidade e aqueles que “topam tudo”.
A criação de novas palavras é comum em qualquer língua. É bastante saudável. Há um enriquecimento vocabular e comprova o caráter evolutivo das línguas vivas.
O problema é o modismo, o exagero, o termo desnecessário.
E aqui está, novamente, a dificuldade de ser moderado. O que aceitar ou não? É uma questão muito subjetiva. Mais uma vez estamos diante de um assunto que não pode ser tratado na base do certo ou do errado. Na minha opinião, é uma questão de adequação.
Voltemos ao famoso caso do IMEXÍVEL. Teoricamente o processo de formação da palavra é aceitável: raiz do verbo MEXER + prefixo “i” (=negação) + sufixo “vel” (=possibilidade). Imexível = o que não se pode mexer. Seria o mesmo caso de insubstituível, invisível, invencível, indestrutível… Na prática, entretanto, temos um problema: devido à “fonte criadora”, a palavra imexível carrega consigo uma carga pejorativa, o que torna o seu uso inadequado em determinadas situações. Não acredito que eu venha a encontrá-la em algum texto sério cuja linguagem seja mais formal.
Curiosamente, muitos neologismos são verbos, como ELENCAR, ALAVANCAR, IMPACTAR e outros. Não vejo necessidade de “elencar”, se podemos LISTAR, ENUMERAR, REUNIR, SELECIONAR… Para que “alavancar”, se podemos IMPULSIONAR, ELEVAR ou LEVANTAR?
É importante lembrar que o verbo ALAVANCAR está devidamente registrado em vários dicionários.
Quanto ao IMPACTAR, o problema é outro. No dicionário Michaelis, IMPACTAR significa “tornar impacto, introduzir em outra coisa de modo que seja impossível retirar, penetrar de modo irreversível”. Entretanto, no meio empresarial, encontramos um uso no mínimo duvidoso: “Esta medida está impactando a nossa empresa”. Isso pode ser bom ou ruim. Eu não sei se a carga do verbo impactar é positiva ou negativa.
Para mim, mais importante que a palavra existir ou não em nossos dicionários é a clareza da frase. Se a palavra selecionada deixa a frase com duplo sentido, devemos evitá-la, a menos que a ambiguidade seja a nossa real intenção.
Não sou contra os neologismos, e sim contra os modismos. É importante lembrar que muitos neologismos já foram incorporados à nossa linguagem do dia a dia e hoje estão devidamente registrados em nossos dicionários: agilizar, minimizar, posicionar, sediar…
Devemos, portanto, ter cautela tanto no uso quanto na crítica a quem usa.
2. Neologismos e hibridismos
Não se assuste. Eu explico: já vimos que neologismos são “palavras novas”, que em geral não aparecem em nossos dicionários. Daí a tendência de muita gente afirmar que a palavra não existe.
Muita gente reclama quanto ao uso de palavras como PROPINODUTO, BIOTERRORISMO e SEQUESTRO-RELÂMPAGO, que, segundo nossos leitores, não existem porque não foram encontratadas em dicionário algum.
É importante que se explique que a existência de uma palavra não depende do registro de um dicionário. A palavra existe a partir do momento em que se faz necessária e os falantes passam a utilizá-la normalmente. Cabe, no caso, aos nossos dicionários fazer o devido registro em suas futuras edições.
A palavra nasce de acordo com a necessidade. Assim como toda criança ao nascer recebe um nome, os fatos novos também merecem “um nome novo”. A palavra BIOTERRORISMO só não aparecia em nossos dicionários porque não havia “terrorismo biológico”. É fato novo, em razão disso: tudo contra o bioterrorismo, mas nada contra a palavra BIOTERRORISMO.
Se inventaram um novo tipo de sequestro, por que não chamá-lo de sequestro-relâmpago? Há muito tempo que, no futebol, se usa “gol-relâmpago” e ninguém reclamou até hoje. Só quem toma o gol, é claro.
Quanto ao PROPINODUTO, achei muito criativo. Juntamos a propina com o DUTO, que vem do latim e significa “que conduz”. Daí o oleoduto, que “conduz óleo”, o gasoduto, que “conduz gás” e o viaduto, que “conduz a via”, e não o que algumas mentes maldosas poderiam imaginar.
Quanto ao fato de misturar elementos de línguas diferentes (propina = português + duto = latim; bio = grego + terrorismo = português), nada contra. Isso se chama hibridismo (= mistura de elementos de diferentes origens) e a nossa língua está cheia de exemplos consagrados: televisão (grego+português), sambódromo (português+grego), camelódromo (português+ grego), automóvel (grego+português), decímetro (latim+grego), burocracia (francês+grego), alcoólatra (árabe+grego)…
O uso de neologismos (=palavras novas, sem registro em nossos dicionários) é sempre um assunto polêmico. Há aqueles que rejeitam qualquer novidade e aqueles que “topam tudo”.
A criação de novas palavras é comum em qualquer língua. É bastante saudável. Há um enriquecimento vocabular e comprova o caráter evolutivo das línguas vivas.
O problema é o modismo, o exagero, o termo desnecessário.
E aqui está, novamente, a dificuldade de ser moderado. O que aceitar ou não? É uma questão muito subjetiva. Mais uma vez estamos diante de um assunto que não pode ser tratado na base do certo ou do errado. Na minha opinião, é uma questão de adequação.
Voltemos ao famoso caso do IMEXÍVEL. Teoricamente o processo de formação da palavra é aceitável: raiz do verbo MEXER + prefixo “i” (=negação) + sufixo “vel” (=possibilidade). Imexível = o que não se pode mexer. Seria o mesmo caso de insubstituível, invisível, invencível, indestrutível… Na prática, entretanto, temos um problema: devido à “fonte criadora”, a palavra imexível carrega consigo uma carga pejorativa, o que torna o seu uso inadequado em determinadas situações. Não acredito que eu venha a encontrá-la em algum texto sério cuja linguagem seja mais formal.
Curiosamente, muitos neologismos são verbos, como ELENCAR, ALAVANCAR, IMPACTAR e outros. Não vejo necessidade de “elencar”, se podemos LISTAR, ENUMERAR, REUNIR, SELECIONAR… Para que “alavancar”, se podemos IMPULSIONAR, ELEVAR ou LEVANTAR?
É importante lembrar que o verbo ALAVANCAR está devidamente registrado em vários dicionários.
Quanto ao IMPACTAR, o problema é outro. No dicionário Michaelis, IMPACTAR significa “tornar impacto, introduzir em outra coisa de modo que seja impossível retirar, penetrar de modo irreversível”. Entretanto, no meio empresarial, encontramos um uso no mínimo duvidoso: “Esta medida está impactando a nossa empresa”. Isso pode ser bom ou ruim. Eu não sei se a carga do verbo impactar é positiva ou negativa.
Para mim, mais importante que a palavra existir ou não em nossos dicionários é a clareza da frase. Se a palavra selecionada deixa a frase com duplo sentido, devemos evitá-la, a menos que a ambiguidade seja a nossa real intenção.
Não sou contra os neologismos, e sim contra os modismos. É importante lembrar que muitos neologismos já foram incorporados à nossa linguagem do dia a dia e hoje estão devidamente registrados em nossos dicionários: agilizar, minimizar, posicionar, sediar…
Devemos, portanto, ter cautela tanto no uso quanto na crítica a quem usa.
2. Neologismos e hibridismos
Não se assuste. Eu explico: já vimos que neologismos são “palavras novas”, que em geral não aparecem em nossos dicionários. Daí a tendência de muita gente afirmar que a palavra não existe.
Muita gente reclama quanto ao uso de palavras como PROPINODUTO, BIOTERRORISMO e SEQUESTRO-RELÂMPAGO, que, segundo nossos leitores, não existem porque não foram encontratadas em dicionário algum.
É importante que se explique que a existência de uma palavra não depende do registro de um dicionário. A palavra existe a partir do momento em que se faz necessária e os falantes passam a utilizá-la normalmente. Cabe, no caso, aos nossos dicionários fazer o devido registro em suas futuras edições.
A palavra nasce de acordo com a necessidade. Assim como toda criança ao nascer recebe um nome, os fatos novos também merecem “um nome novo”. A palavra BIOTERRORISMO só não aparecia em nossos dicionários porque não havia “terrorismo biológico”. É fato novo, em razão disso: tudo contra o bioterrorismo, mas nada contra a palavra BIOTERRORISMO.
Se inventaram um novo tipo de sequestro, por que não chamá-lo de sequestro-relâmpago? Há muito tempo que, no futebol, se usa “gol-relâmpago” e ninguém reclamou até hoje. Só quem toma o gol, é claro.
Quanto ao PROPINODUTO, achei muito criativo. Juntamos a propina com o DUTO, que vem do latim e significa “que conduz”. Daí o oleoduto, que “conduz óleo”, o gasoduto, que “conduz gás” e o viaduto, que “conduz a via”, e não o que algumas mentes maldosas poderiam imaginar.
Quanto ao fato de misturar elementos de línguas diferentes (propina = português + duto = latim; bio = grego + terrorismo = português), nada contra. Isso se chama hibridismo (= mistura de elementos de diferentes origens) e a nossa língua está cheia de exemplos consagrados: televisão (grego+português), sambódromo (português+grego), camelódromo (português+ grego), automóvel (grego+português), decímetro (latim+grego), burocracia (francês+grego), alcoólatra (árabe+grego)…
Temas polêmicos
qua, 17/11/10
por snogueira.sn |
categoria Dicas
1. A palavra existe ou não, eis a questão.
O prefixo NEO vem do grego e significa “novo”. NEOLOGISMOS são “palavras novas”, que não estão registradas em nossos dicionários nem no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras.
O uso de neologismos costuma gerar muita discussão.
Há quem adore as novidades e não faça restrição alguma ao seu uso, e existem aqueles que só aceitam os neologismos depois de devidamente registrados em algum dicionário. E aqui já temos um novo problema. Para o brasileiro em geral, só há um dicionário: o Aurélio. É, sem dúvida, um dos melhores e dos maiores dicionários do mundo. É bom lembrar que a edição lançada em 1999 apresentava 28 mil novos verbetes. Temos de tomar muito cuidado ao afirmar que tal palavra existe ou não. Quem tem o velho Aurélio pode ser traído por uma nova edição. Recentemente, foi publicada uma nova edição pós-acordo ortográfico.
É importante lembrar também que o dicionário Aurélio apresenta em torno de 180 mil verbetes, que o dicionário Michaelis tem um pouco mais de 200 mil, e que o dicionário Houaiss apresenta aproximadamente 230 mil verbetes. É muito perigoso afirmar que uma palavra existe ou não. Tem que pesquisar.
Usar ou não um neologismo torna-se uma questão um pouco subjetiva. Por exemplo, você gosta do verbo DISPONIBILIZAR? É, sem dúvida, um verbo muito usado no meio empresarial. É adorado por alguns e detestado por outros, principalmente por aqueles que descobriram que DISPONIBILIZAR não estava registrado no velho Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, e que não aparecia em dicionário algum. Um aviso aos navegantes: o verbo DISPONIBILIZAR já está registrado nas novas edições de nossos principais dicionários.
Agora, você decide. Qual é a sua preferência: “O governo vai disponibilizar as verbas necessárias para as obras…” ou “Segundo o governo, as verbas necessárias para as obras estarão disponíveis…”?
A aceitação de um neologismo pode provocar discussões sem fim. É importante lembrar que os neologismos fazem parte da evolução das línguas vivas. Muitas palavras que hoje estão nos nossos dicionários já foram, algum dia, belos neologismos. Foram consagradas pelo uso e abonadas pelo tempo. E aqui, a grande lição: nada como o tempo para provar se a palavra é boa ou não, se é necessária ou não.
Leitor reclama: “Acabo de chegar da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, e lá é comum ler-se RETORNO SEMAFORIZADO”.
É como afirmei acima. Só o tempo vai nos dizer se a palavra é boa ou ruim, se ela fica ou não. Tudo que é estranho hoje pode ser muito comum daqui a alguns anos.
E não devemos esquecer que os neologismos enriquecem as línguas. SEMAFORIZADO (palavra já registrada no novíssimo Aurélio) vem de SEMÁFORO, palavra formada por elementos de origem grega: SEMA (=sinal, sentido, significado) e FORO (=que faz, que produz). Para quem não conhece a palavra, SEMÁFORO é o que o carioca chama de “sinal”, o paulista também chama de “farol”, o gaúcho chama de “sinaleira” e assim por diante. Isso é riqueza vocabular.
2. A “multagem” eletrônica
Leitor, indignado com as multas indevidas que diz ter recebido, mostra-se ainda mais revoltado com a palavra “multagem”, que aparece em placas espalhadas por vias de algumas cidades brasileiras.
“Multagem” é um neologismo ainda sem registro em nossos principais dicionários, mas algo deve ser dito em defesa da palavra: ela foi criada em perfeito acordo com os nossos processos de formação de palavras.
Existem vários sufixos para designar “ato ou resultado da ação”: ato de agredir = agressão; ato de deter = detenção; ato de ascender = ascensão; ato de julgar = julgamento; ato de preferir = preferência; ato de lavar = lavagem.
Como podemos observar, há diferentes sufixos para a mesma função. E não há regra lógica que explique por que o ato de colocar é colocação e o de deslocar é deslocamento, por que o resultado da ação de casar é casamento e o de cassar é cassação.
Assim sendo, se o ato de contar é contagem, se o ato de pesar é pesagem, por que o ato de multar não pode ser multagem?
Se a palavra é boa ou ruim, se vai “pegar” ou não, só o tempo dirá.
O simples fato de a palavra não estar em nossos dicionários não significa que ela não exista. Veja o caso de bioterrorismo. Se você consultasse o dicionário Houaiss e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa publicado pela Academia Brasileira de Letras em 1999, não encontraria registro da palavra bioterrorismo. Isso não significava que ela não existia. Infelizmente o bioterrorismo existe independentemente de a palavra estar ou não registrada em nossos dicionários. A equipe do antigo dicionário Aurélio, atenta a esse fato novo, já havia registrado a palavra bioterrorismo.
Com o adjetivo “imexível”, neologismo criado em 1990 pelo então ministro Rogério Magri, ocorre o contrário: está registrado no dicionário Houaiss e no Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras, mas não aparecia no dicionário Aurélio.
Se você vai usar ou não, é um critério seu. É uma questão de estilo e de adequação da linguagem.
É assim que os neologismos nascem. Alguns sobrevivem, outros não. Quem dá vida às palavras somos nós, falantes da língua portuguesa.
1ª) Vai a ou à Brasília? Vai a ou à Bahia?
Quando vamos sempre vamos a algum lugar. O verbo IR pede a preposição a. O problema é que o nome do lugar (= topônimo) aonde vamos às vezes vem antecedido de artigo definido a, às vezes não.
Enquanto Brasília não apresenta artigo definido, a Bahia é antecedida do artigo definido a. Isso significa que você “VAI À BAHIA” (=proposição a do verbo IR + artigo definido a que antecede a Bahia) e que você “VAI A BRASÍLIA” (=sem crase, porque só há a preposição a do verbo IR).
Se você quer saber com mais rapidez se deve IR À ou A algum lugar (com ou sem o acento da crase), use o seguinte “macete”:
Antes de IR, VOLTE.
Se você volta DA, significa que há artigo: você vai À;
Se você volta DE, significa que não há artigo: você vai A.
Exemplo:
“Você volta DA Bahia” > “Você vai À Bahia”
“Você volta DE Brasília” > “Você vai A Brasília”
Vamos testar o “macete” em outros exemplos:
“Vou à Inglaterra” (=”Volto DA Inglaterra”)
“Vou a Israel” (=”Volto DE Israel”)
“Vou à Paraíba” (=”Volto DA Paraíba”)
“Vou a Goiás” (=”Volto DE Goiás”)
“Vou a Curitiba” (=”Volto DE Curitiba”)
“Vou à progressista Curitiba” (=”Volto DA progressista Curitiba”)
“Vou à Barra da Tijuca” (=”Volto DA Barra da Tijuca”)
“Vou a Copacabana” (=”Volto DE Copacabana”)
No Rio de Janeiro, a linha 1 metrô é bem interessante: só ocorre crase numa direção:
“Vou em direção à Tijuca” (=”Volto DA Tijuca”);
“Vou em direção a Ipanema” (=”Volto DE Ipanema”).
É importante lembrar que esse macete não se aplica a todos os casos de crase. Na verdade, a dica de hoje só resolve o problema das “viagens”: IR à ou a, DIRIGIR-SE à ou a, VIAJAR à ou a, CHEGAR à ou a …
2ª) Ele é um dos que VIAJOU ou VIAJARAM?
Embora alguns gramáticos considerem esse caso facultativo, a nossa preferência é o PLURAL:
“Ele é um dos que VIAJARAM.”
O raciocínio é o seguinte: “dentre aqueles que VIAJARAM, ele é um”.
Outro motivo que nos leva a preferir o verbo no plural é a concordância nominal. Todos diriam que “ele é um dos artistas mais BRILHANTES” (=que mais BRILHAM). Ninguém usaria o adjetivo BRILHANTE no singular.
Portanto, depois de UM DOS…QUE, faça a concordância com o verbo no PLURAL:
“Dona Zica foi uma das moradoras que SOCORRERAM as vítimas da enchente.”
“Rio de Janeiro é uma das cidades que SERÃO VISITADAS pela comissão julgadora.”
“Chiquinho é um dos jogadores que se DESTACARAM no último campeonato.”
É interessante lembrar que, caso haja ideia de “exclusividade”, o verbo ficará no SINGULAR: “Senhora é um dos romances de José de Alencar que CAIU no último vestibular.” Nesse caso, devemos entender que Senhora é o único romance de José de Alencar que CAIU na prova do vestibular.
3ª) Espero que não haja obstáculos à realização das provas, daqui HÁ ou A uma semana?
O correto é: Espero que não haja obstáculos à realização das provas, daqui A uma semana.
HÁ (=do verbo HAVER) só poderia ser usado caso se referisse a um tempo já transcorrido: “Não nos vemos há uma semana.”
Quando a ideia é de “tempo futuro”, devemos usar a preposição a: “Só nos veremos daqui a uma semana.”
“Espero que não haja obstáculos à realização das provas, daqui a uma semana.”
Resumindo:
Tempo passado: Aconteceu agora há pouco = HÁ (=FAZ);
Tempo futuro: Veja daqui a pouco = A.
4ª) A concordância em “Na região VÊ-SE cadeias de montanhas de todas as formas” está correta?
A partícula SE é apassivadora. Cadeias de montanhas de todas as formas é o “sujeito passivo” e está no plural. O verbo deve concordar no plural: “Na região VEEM-SE cadeias de montanhas de todas as formas.” Corresponde a “Cadeias de montanhas de todas as formas SÃO VISTAS na região”.
5ª) A frase: “Vossa Excelência deve comparecer com vossos convidados à reunião do dia 20. Estamos a vosso dispor para mais esclarecimentos” está correta?
VOSSA EXCELÊNCIA é um pronome de tratamento. Os pronomes de tratamento (=Vossa Santidade, Vossa Majestade, Vossa Senhoria, você …) fazem concordância de 3ª pessoa.
A concordância verbal e pronominal deve ser feita em 3ª pessoa: “Vossa Excelência (=você) DEVE comparecer com SEUS convidados à reunião do dia 20. Estamos a SEU dispor para mais esclarecimentos
O prefixo NEO vem do grego e significa “novo”. NEOLOGISMOS são “palavras novas”, que não estão registradas em nossos dicionários nem no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras.
O uso de neologismos costuma gerar muita discussão.
Há quem adore as novidades e não faça restrição alguma ao seu uso, e existem aqueles que só aceitam os neologismos depois de devidamente registrados em algum dicionário. E aqui já temos um novo problema. Para o brasileiro em geral, só há um dicionário: o Aurélio. É, sem dúvida, um dos melhores e dos maiores dicionários do mundo. É bom lembrar que a edição lançada em 1999 apresentava 28 mil novos verbetes. Temos de tomar muito cuidado ao afirmar que tal palavra existe ou não. Quem tem o velho Aurélio pode ser traído por uma nova edição. Recentemente, foi publicada uma nova edição pós-acordo ortográfico.
É importante lembrar também que o dicionário Aurélio apresenta em torno de 180 mil verbetes, que o dicionário Michaelis tem um pouco mais de 200 mil, e que o dicionário Houaiss apresenta aproximadamente 230 mil verbetes. É muito perigoso afirmar que uma palavra existe ou não. Tem que pesquisar.
Usar ou não um neologismo torna-se uma questão um pouco subjetiva. Por exemplo, você gosta do verbo DISPONIBILIZAR? É, sem dúvida, um verbo muito usado no meio empresarial. É adorado por alguns e detestado por outros, principalmente por aqueles que descobriram que DISPONIBILIZAR não estava registrado no velho Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, e que não aparecia em dicionário algum. Um aviso aos navegantes: o verbo DISPONIBILIZAR já está registrado nas novas edições de nossos principais dicionários.
Agora, você decide. Qual é a sua preferência: “O governo vai disponibilizar as verbas necessárias para as obras…” ou “Segundo o governo, as verbas necessárias para as obras estarão disponíveis…”?
A aceitação de um neologismo pode provocar discussões sem fim. É importante lembrar que os neologismos fazem parte da evolução das línguas vivas. Muitas palavras que hoje estão nos nossos dicionários já foram, algum dia, belos neologismos. Foram consagradas pelo uso e abonadas pelo tempo. E aqui, a grande lição: nada como o tempo para provar se a palavra é boa ou não, se é necessária ou não.
Leitor reclama: “Acabo de chegar da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, e lá é comum ler-se RETORNO SEMAFORIZADO”.
É como afirmei acima. Só o tempo vai nos dizer se a palavra é boa ou ruim, se ela fica ou não. Tudo que é estranho hoje pode ser muito comum daqui a alguns anos.
E não devemos esquecer que os neologismos enriquecem as línguas. SEMAFORIZADO (palavra já registrada no novíssimo Aurélio) vem de SEMÁFORO, palavra formada por elementos de origem grega: SEMA (=sinal, sentido, significado) e FORO (=que faz, que produz). Para quem não conhece a palavra, SEMÁFORO é o que o carioca chama de “sinal”, o paulista também chama de “farol”, o gaúcho chama de “sinaleira” e assim por diante. Isso é riqueza vocabular.
2. A “multagem” eletrônica
Leitor, indignado com as multas indevidas que diz ter recebido, mostra-se ainda mais revoltado com a palavra “multagem”, que aparece em placas espalhadas por vias de algumas cidades brasileiras.
“Multagem” é um neologismo ainda sem registro em nossos principais dicionários, mas algo deve ser dito em defesa da palavra: ela foi criada em perfeito acordo com os nossos processos de formação de palavras.
Existem vários sufixos para designar “ato ou resultado da ação”: ato de agredir = agressão; ato de deter = detenção; ato de ascender = ascensão; ato de julgar = julgamento; ato de preferir = preferência; ato de lavar = lavagem.
Como podemos observar, há diferentes sufixos para a mesma função. E não há regra lógica que explique por que o ato de colocar é colocação e o de deslocar é deslocamento, por que o resultado da ação de casar é casamento e o de cassar é cassação.
Assim sendo, se o ato de contar é contagem, se o ato de pesar é pesagem, por que o ato de multar não pode ser multagem?
Se a palavra é boa ou ruim, se vai “pegar” ou não, só o tempo dirá.
O simples fato de a palavra não estar em nossos dicionários não significa que ela não exista. Veja o caso de bioterrorismo. Se você consultasse o dicionário Houaiss e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa publicado pela Academia Brasileira de Letras em 1999, não encontraria registro da palavra bioterrorismo. Isso não significava que ela não existia. Infelizmente o bioterrorismo existe independentemente de a palavra estar ou não registrada em nossos dicionários. A equipe do antigo dicionário Aurélio, atenta a esse fato novo, já havia registrado a palavra bioterrorismo.
Com o adjetivo “imexível”, neologismo criado em 1990 pelo então ministro Rogério Magri, ocorre o contrário: está registrado no dicionário Houaiss e no Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras, mas não aparecia no dicionário Aurélio.
Se você vai usar ou não, é um critério seu. É uma questão de estilo e de adequação da linguagem.
É assim que os neologismos nascem. Alguns sobrevivem, outros não. Quem dá vida às palavras somos nós, falantes da língua portuguesa.
1ª) Vai a ou à Brasília? Vai a ou à Bahia?
Quando vamos sempre vamos a algum lugar. O verbo IR pede a preposição a. O problema é que o nome do lugar (= topônimo) aonde vamos às vezes vem antecedido de artigo definido a, às vezes não.
Enquanto Brasília não apresenta artigo definido, a Bahia é antecedida do artigo definido a. Isso significa que você “VAI À BAHIA” (=proposição a do verbo IR + artigo definido a que antecede a Bahia) e que você “VAI A BRASÍLIA” (=sem crase, porque só há a preposição a do verbo IR).
Se você quer saber com mais rapidez se deve IR À ou A algum lugar (com ou sem o acento da crase), use o seguinte “macete”:
Antes de IR, VOLTE.
Se você volta DA, significa que há artigo: você vai À;
Se você volta DE, significa que não há artigo: você vai A.
Exemplo:
“Você volta DA Bahia” > “Você vai À Bahia”
“Você volta DE Brasília” > “Você vai A Brasília”
Vamos testar o “macete” em outros exemplos:
“Vou à Inglaterra” (=”Volto DA Inglaterra”)
“Vou a Israel” (=”Volto DE Israel”)
“Vou à Paraíba” (=”Volto DA Paraíba”)
“Vou a Goiás” (=”Volto DE Goiás”)
“Vou a Curitiba” (=”Volto DE Curitiba”)
“Vou à progressista Curitiba” (=”Volto DA progressista Curitiba”)
“Vou à Barra da Tijuca” (=”Volto DA Barra da Tijuca”)
“Vou a Copacabana” (=”Volto DE Copacabana”)
No Rio de Janeiro, a linha 1 metrô é bem interessante: só ocorre crase numa direção:
“Vou em direção à Tijuca” (=”Volto DA Tijuca”);
“Vou em direção a Ipanema” (=”Volto DE Ipanema”).
É importante lembrar que esse macete não se aplica a todos os casos de crase. Na verdade, a dica de hoje só resolve o problema das “viagens”: IR à ou a, DIRIGIR-SE à ou a, VIAJAR à ou a, CHEGAR à ou a …
2ª) Ele é um dos que VIAJOU ou VIAJARAM?
Embora alguns gramáticos considerem esse caso facultativo, a nossa preferência é o PLURAL:
“Ele é um dos que VIAJARAM.”
O raciocínio é o seguinte: “dentre aqueles que VIAJARAM, ele é um”.
Outro motivo que nos leva a preferir o verbo no plural é a concordância nominal. Todos diriam que “ele é um dos artistas mais BRILHANTES” (=que mais BRILHAM). Ninguém usaria o adjetivo BRILHANTE no singular.
Portanto, depois de UM DOS…QUE, faça a concordância com o verbo no PLURAL:
“Dona Zica foi uma das moradoras que SOCORRERAM as vítimas da enchente.”
“Rio de Janeiro é uma das cidades que SERÃO VISITADAS pela comissão julgadora.”
“Chiquinho é um dos jogadores que se DESTACARAM no último campeonato.”
É interessante lembrar que, caso haja ideia de “exclusividade”, o verbo ficará no SINGULAR: “Senhora é um dos romances de José de Alencar que CAIU no último vestibular.” Nesse caso, devemos entender que Senhora é o único romance de José de Alencar que CAIU na prova do vestibular.
3ª) Espero que não haja obstáculos à realização das provas, daqui HÁ ou A uma semana?
O correto é: Espero que não haja obstáculos à realização das provas, daqui A uma semana.
HÁ (=do verbo HAVER) só poderia ser usado caso se referisse a um tempo já transcorrido: “Não nos vemos há uma semana.”
Quando a ideia é de “tempo futuro”, devemos usar a preposição a: “Só nos veremos daqui a uma semana.”
“Espero que não haja obstáculos à realização das provas, daqui a uma semana.”
Resumindo:
Tempo passado: Aconteceu agora há pouco = HÁ (=FAZ);
Tempo futuro: Veja daqui a pouco = A.
4ª) A concordância em “Na região VÊ-SE cadeias de montanhas de todas as formas” está correta?
A partícula SE é apassivadora. Cadeias de montanhas de todas as formas é o “sujeito passivo” e está no plural. O verbo deve concordar no plural: “Na região VEEM-SE cadeias de montanhas de todas as formas.” Corresponde a “Cadeias de montanhas de todas as formas SÃO VISTAS na região”.
5ª) A frase: “Vossa Excelência deve comparecer com vossos convidados à reunião do dia 20. Estamos a vosso dispor para mais esclarecimentos” está correta?
VOSSA EXCELÊNCIA é um pronome de tratamento. Os pronomes de tratamento (=Vossa Santidade, Vossa Majestade, Vossa Senhoria, você …) fazem concordância de 3ª pessoa.
A concordância verbal e pronominal deve ser feita em 3ª pessoa: “Vossa Excelência (=você) DEVE comparecer com SEUS convidados à reunião do dia 20. Estamos a SEU dispor para mais esclarecimentos
fonte:http://g1.globo.com/platb/portugues